Campo Bom aposta em soluções naturais para enfrentar enchentes e tratar esgoto

Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica tem monitoramento iniciado em parceria com a Universidade Feevale
O município de Campo Bom deu início ao monitoramento do Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica, um projeto pioneiro que une saneamento, restauração ecológica e inovação ambiental. A iniciativa utiliza Soluções Baseadas na Natureza (SbN) – tecnologias inspiradas nos ecossistemas naturais – para promover o tratamento de esgoto, a melhoria da drenagem urbana e a redução dos impactos das cheias. O conceito de SbN vem ganhando destaque em todo o mundo diante da necessidade das cidades se adaptarem às mudanças climáticas, especialmente após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024.
Localizado na região sul da cidade, o parque foi construído para resolver antigos problemas de saneamento no bairro Vila Rica. A área, com cerca de dois hectares, recebe o esgoto de aproximadamente 2.200 moradores, além das águas pluviais provenientes de uma bacia de cerca de 25 hectares. O local, originalmente um banhado natural que havia sido aterrado, está agora passando por um processo de recuperação ambiental e retomando suas funções ecológicas.
O sistema é composto por 11 lagoas vegetadas, que utilizam a tecnologia de banhados construídos (constructed wetlands). Nessas lagoas, plantas aquáticas nativas auxiliam na depuração da matéria orgânica e no tratamento natural do esgoto, além de contribuírem para o armazenamento temporário de águas das chuvas e a mitigação das cheias locais.
Para avaliar a eficiência do sistema, a Prefeitura firmou um convênio com a Universidade Feevale, que, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, realiza o monitoramento da qualidade da água, dos níveis e das vazões das lagoas. O objetivo é mensurar os benefícios das estruturas e da vegetação no tratamento dos efluentes e na regulação hídrica do entorno.
Os resultados preliminares são promissores: o efluente tratado apresentou reduções médias de 99,5% em coliformes fecais, 86,6% em coliformes totais, 98,2% em DBO₅, 94,8% em DQO, 71,1% em fósforo total, 76,6% em amônia (NH₃), 19% em NTK e 95% em sólidos suspensos totais (SST) – índices que demonstram alta eficiência no tratamento biológico.
“Esse projeto representa uma nova forma de pensar o saneamento, em sintonia com a natureza. Estamos transformando um antigo passivo ambiental em uma solução sustentável e educativa para toda a cidade”, destaca o prefeito Giovani Feltes.
O local recebeu recentemente a visita dos pesquisadores Professora Dra. Lúcia Ribeiro Rodrigues e Dr. Gustavo S. Colares, da UFRGS e do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), acompanhados do Professor Dr. Günther Gehlen, do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da universidade Feevale. Eles fazem parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Soluções Baseadas na Natureza, CNPQ, CAPES E FAPERGS e, na oportunidade, puderam conhecer o parque, as obras já concluídas e propor ações para qualificar ainda mais o projeto, focando em ações que beneficiem tanto a população do entorno do parque como a Bacia do Rio dos Sinos.
“O Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica é um exemplo de como as Soluções Baseadas na Natureza podem ser aplicadas no contexto urbano, unindo ciência, gestão pública e benefícios diretos para a comunidade”, destaca Gehlen.
A recuperação da área foi viabilizada por recursos de compensação ambiental e prevê a implantação de um parque urbano voltado à educação ambiental e à divulgação de tecnologias sustentáveis. O projeto foi selecionado para apresentação no 7º Simpósio Nacional de Wetlands Construídos, no dia 28 de outubro, em Curitiba (PR), colocando Campo Bom entre os municípios pioneiros do Brasil na aplicação de soluções baseadas na natureza para a recuperação de áreas degradadas e gestão ambiental urbana.